O discurso feito esta terça-feira na ONU pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, provocou uma vaga de indignação no Brasil e na imprensa mundial, pelas inverdades, preconceito e ataques a entidades e outros países. Especulações dos últimos dias de que Bolsonaro faria um discurso moderado tentando atenuar a péssima impressão do mundo inteiro às suas posições e ao seu governo foram substituídas pela incredulidade e pela revolta assim que o brasileiro começou a falar na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Bolsonaro iniciou o seu discurso ao ataque, afirmando que ia repor a verdade sobre o Brasil que a imprensa brasileira e mundial, segundo ele, distorcem, mostrou preconceito ao assumir-se como um presidente cristão que acredita na família tradicional, ou seja, um homem e uma mulher, deixando de fora milhões de famílias com orientações diversas, e em seguida iniciou uma série de inverdades. O governante brasileiro declarou que a Amazónia está praticamente intacta, negando a devastação que quase diariamente é noticiada, afirmou que os índios brasileiros vivem numa liberdade absoluta, ignorando as denúncias de invasões e ataques armados de garimpeiros e madeireiros a aldeias indígenas, responsabilizou governadores de estados e autarcas pelo elevado desemprego no Brasil e, para espanto de todos, voltou a defender o tratamento da Covid com medicamentos rejeitados pelas entidades de saúde de todo o planeta e criticou o chamado passaporte de vacina, adotado por inúmeros países.

Membros de delegações de outros países na própria sede da ONU e que falaram a jornalistas sob sigilo para evitar problemas diplomáticos classificaram o discurso como “vergonhoso” e uma sucessão de informações falsas sobre a realidade brasileira e os supostos êxitos do governo Bolsonaro. A imprensa norte-americana ridicularizou o presidente brasileiro e o seu discurso, que o jornal Washington Post avaliou como “embaraçoso”, e o New York Times considerou “provocador”, realçando que a defesa que Bolsonaro fez de tratamentos já condenados pela OMS, Organização Mundial da Saúde, o isolaram ainda mais do resto dos líderes mundiais.

No Brasil, à exceção dos seguidores mais fanáticos, o discurso de Jair Bolsonaro foi fortemente criticado, com a imprensa a chamar “mentiroso contumaz” ao presidente, e a opinião quase unânime era a de que o chefe de Estado “afundou” definitivamente o pouco de credibilidade internacional que ainda poderia ter. O senador Randolfe Rodrigues, membro da Comissão de Inquérito do Senado que apura erros e omissões no combate à pandemia de Coronavírus classificou o discurso de Bolsonaro como “um vexame de dimensão mundial”, enquanto outro senador, Renan Calheiros, disse que as palavras de Bolsonaro foram “um espetáculo muito triste” pelo qual o Brasil não merecia ter passado”.

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