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Cientistas afirmam que sinais de mudança climática induzida pelo homem eram detectáveis há mais de 130 anos

A menos que alguém invente uma máquina do tempo, nunca saberemos se essa previsão teria evitado os efeitos devastadores das emissões descontroladas de combustíveis fósseis
Cientistas afirmam que sinais de mudança climática induzida pelo homem eram detectáveis há mais de 130 anos
Imagem De by-studio via Adobe Stock

Um novo estudo sugere que, com a tecnologia adequada, os primeiros sinais da influência humana na mudança climática poderiam ter sido detectados já em 1885, bem antes da popularização dos carros movidos a combustíveis fósseis. A pesquisa, publicada na PNAS, analisou como medições atmosféricas modernas poderiam ter sido aplicadas a dados históricos, revelando um impacto humano discernível no clima há mais de um século.

Sinais precoces de um problema global

Utilizando uma análise hipotética, os cientistas projetaram um cenário onde tecnologias como radiômetros de microondas de satélites e estimativas contemporâneas de mudanças de dióxido de carbono a partir de núcleos de gelo e balões estratosféricos estivessem disponíveis a partir de 1860. Aplicando um método de ‘impressão digital’ baseado em padrões, conseguiram separar os efeitos humanos e naturais sobre o clima.

Contrariando a expectativa de aquecimento generalizado, o sinal de alerta precoce da mudança climática teria se manifestado como um resfriamento estratosférico. Este efeito é uma resposta radiativa direta às emissões humanas de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, além da perda de ozônio induzida pelo homem.

O impacto dos gases de efeito estufa na atmosfera

Os gases de efeito estufa aprisionam a radiação da superfície da Terra na troposfera (camada inferior da atmosfera), aumentando o poder refletor da estratosfera (camada superior). Isso faz com que o calor seja refletido de volta para a Terra. A depleção de ozônio, por sua vez, diminui a capacidade da estratosfera de absorver calor radiativo. O efeito combinado é o resfriamento estratosférico, enquanto a troposfera começa a esquentar.

A estratosfera é menos afetada pelas flutuações climáticas da troposfera, o que dificulta a observação de padrões climáticos de longo prazo a partir de medições terrestres. “O resfriamento pronunciado da estratosfera média a superior, principalmente impulsionado pelo aumento antropogênico de dióxido de carbono, seria identificável com alta confiança por volta de 1885, antes do advento dos carros movidos a gás”, escreveram os autores. Mesmo com medições de alta qualidade limitadas ao hemisfério norte, a detecção do resfriamento estratosférico induzido pelo homem seria factível até 1894, de acordo com o estudo.

Um século de conhecimento negligenciado?

A pesquisa destaca a possibilidade de que, com a tecnologia disponível hoje, os impactos humanos no clima poderiam ter sido detectados muito antes do que se imaginava. “Sabemos com alta confiança que caminhos sustentáveis devem ser seguidos para evitar a interferência antropogênica perigosa no clima”, concluem os autores. “A humanidade está agora no limiar de uma interferência antropogênica perigosa. Nossas escolhas de curto prazo determinarão se cruzaremos ou não esse limiar.”

Apesar da detecção hipotética de sinais precoces, a realidade é que a compreensão científica do papel dos gases de efeito estufa na mudança climática só se consolidou nas décadas de 1970 e 1980. A descoberta das propriedades de aprisionamento de calor do dióxido de carbono ocorreu na metade do século XIX, coincidindo com o aumento das emissões devido à Revolução Industrial. A falta de tecnologia e a própria compreensão científica atrasaram a percepção da gravidade da situação.

A pesquisa levanta questionamentos importantes sobre o que poderia ter sido feito se a ciência tivesse as ferramentas necessárias para detectar a mudança climática em estágios iniciais. A ausência de ação preventiva, mesmo com um conhecimento antecipado, ressalta a urgência de medidas eficazes para mitigar os efeitos das emissões de combustíveis fósseis e construir um futuro sustentável.

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