FERNANDO HADDAD
Professor e advogado, foi candidato à Presidência da República pelo PT em 2018, prefeito de São Paulo (2013-2016) e ministro da Educação (2005-2012, governos Lula e Dilma Rousseff)

GABRIEL GALÍPOLO
Mestre em economia política pela PUC-SP, foi presidente do banco Fator (2017-2021)

[RESUMO] Autores sustentam que a criação de uma moeda sul-americana pode impulsionar o processo de integração regional, marcado pelo ritmo lento e por momentos de recuo, e fortalecer a soberania monetária dos países da América do Sul, que enfrentam limitações econômicas decorrentes da fragilidade internacional de suas moedas.

Em modelos de precificação de ativos, os juros pagos por títulos de dívida emitidos pelo governo são denominados de risco soberano ou livres de risco de crédito, justamente pela capacidade da autoridade monetária emitir o meio de pagamento capaz de liquidar suas obrigações e dívidas, dentro de suas próprias economias.

Se, dentro de cada nação, o Estado e sua moeda são soberanos, nas relações internacionais a lógica é distinta. Há, no sistema financeiro internacional, uma hierarquia entre moedas nacionais, com o dólar no topo conferindo aos Estados Unidos o privilégio de emitir a moeda internacional.

Os países-membros seriam creditados com uma dotação inicial de SUR, em regras claras convencionadas, e teriam liberdade para adotá-la domesticamente ou manter suas moedas. As taxas de câmbio entre as moedas nacionais e a SUR seriam flutuantes. Direitos financeiros, como reservas internacionais, também forneceriam contrapartida para emissão equivalente de SUR.

É também fundamental um mecanismo de ajustes simétricos entre países superavitários e deficitários. Os recursos vindos desse mecanismo serão utilizados para capitalizar um fundo da Câmara Sul-Americana de Compensação, vocacionado a financiar a redução de assimetrias entre as economias e o fomento das sinergias entre elas.

Os países-membros poderão comprar SUR para compor suas reservas internacionais, sem que os valores adquiridos sejam taxados. Devem ser criados mecanismos para taxar e desincentivar ataques especulativos.

A criação de uma moeda sul-americana é a estratégia para acelerar o processo de integração regional, constituindo um poderoso instrumento de coordenação política e econômica para os povos sul-americanos. É um passo fundamental rumo ao fortalecimento da soberania e da governança regional, que certamente se mostrará decisivo em um novo mundo.

Fonte: Folha de São Paulo

By admin

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *