O avanço da fome no país, que atinge agora 33 milhões de brasileiros, é apontado como tragédia social por Rodrigo ‘Kiko’ Afonso, um dos herdeiros de Betinho (1935-1997).

À frente da ONG Ação da Cidadania, fundada pelo sociólogo que se tornou referência no combate à fome no Brasil, Kiko Afonso credita a escalada do problema no país a um governo que trata a segurança alimentar como negócio.

O avanço da fome no país, que atinge agora 33 milhões de brasileiros, é apontado como tragédia social por Rodrigo ‘Kiko’ Afonso, um dos herdeiros de Betinho (1935-1997).

À frente da ONG Ação da Cidadania, fundada pelo sociólogo que se tornou referência no combate à fome no Brasil, Kiko Afonso credita a escalada do problema no país a um governo que trata a segurança alimentar como negócio.

Como Betinho levantou essa bandeira tão fortemente de maneira que a causa foi abraçada pela sociedade?
Quando Betinho levou essa questão para o então presidente Itamar Franco, em 1992, ele decretou estado de emergência e reuniu todos os ministros para pensar ações de combate à fome.

A mídia tinha engajamento mais profundo. Hoje, vários temas são censurados, especialmente quando abordam o agronegócio, que é financiador.

Betinho era uma figura pública amada e respeitada que foi alavancada pela mídia. Também tínhamos uma sociedade menos dividida. Fome é fome, não cabia debate ideológico sobre isso.

Como empresas podem apoiar essa mobilização?
O ESG [sigla para práticas ambientais, sociais e de governança] é instrumento limitador do combate à fome.

Das 116 empresas que entregaram relatórios de impacto social na Bolsa de Valores para fazer parte dos índices de sustentabilidade, só 16 tem o ODS 2 [meta de acabar com a fome] como prioritário. Dessas 16, a maioria são empresas alimentícias.

Isso indica que o ESG tem sido foco de investidores que querem se proteger de riscos de impactos socioambientais sobre seus negócios.

A fome não é risco para empresas. Algumas encaixam rubricas de forma criativa, mas estamos limitados e dependemos do dinheiro do marketing, área que vive de ciclos de campanha.

O ESG é instrumento limitador do combate à fome.

RODRIGO ‘KIKO’ AFONSO

sobre a avaliação de risco que investidores fazem

Só que a fome é todo dia. Precisamos do dinheiro do ESG, não só do marketing.

Ainda que sejam temas fundamentais, não adianta falar de diversidade se a pessoa está com fome. Você aborda esses temas na favela e as pessoas devolvem que estão com fome.

Quem tem fome está com ainda mais pressa, como dizia Betinho?
Muito mais. Pressa já tínhamos há seis anos, agora, mesmo com dados alarmantes, não há sensação de indignação completa.

Tivemos passeata contra vinte centavos de passagem de ônibus, como não temos uma mobilização dos brasileiros contra a fome?

Fonte: Folha de São Paulo

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