Vou começar falando do principal evento político do final de semana. Da maneira como se deu o lançamento oficial da pré-candidatura (a sexta) de Lula (PT) ao Palácio do Planalto, a eleição presidencial deste ano caminha para ter apenas dois competidores com chances reais de vitória (o petista e o presidente Jair Bolsonaro) e duas visões de mundo totalmente diversas à disposição do eleitor. Quem entende do riscado, diz que esse cenário só não deverá se consolidar ainda mais até outubro se houver muita baixaria na disputa entre Lula e Bolsonaro (PL), atualmente, os dois líderes das pesquisas, o que poderia estressar o eleitor e provocar uma rejeição total à polarização.

Caso contrário, este 2022 tem tudo para lembrar a eleição de 1994, quando o próprio Lula enfrentou Fernando Henrique Cardoso (PSDB): em linhas generalíssimas, o petista era contra o Plano Real, criado pelo tucano. Prevaleceu nas urnas, em 1994, o desejo dos brasileiros de seguir com a política econômica de FHC.

Voltando a 2022, desde o último sábado, 7, o PT retomou o prumo na construção de sua narrativa eleitoral (termo usado aqui não em sentido pejorativo, mas no de avançar em seu projeto político-eleitoral) de que é necessário construir uma frente democrática ao redor de Lula para derrotar Jair Bolsonaro. Ou seja, se você é favor da democracia, da igualdade e contra o que Lula chamou de “totalitarismo”, vota no candidato petista. Essa é a mensagem principal que o partido tentou transmitir com o ato de sábado.

O PT, com a valorosa ajuda do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), tenta sair da condição de um certo isolamento à esquerda, imposta a ele após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, para retomar o diálogo com setores da sociedade que não são necessariamente os fiéis eleitores do partido.

O evento de lançamento da pré-candidatura Lula-Alckmin conseguiu recuperar o conceito desenhado no jantar do Grupo Prerrogativas (de advogados e juristas), em dezembro do ano passado, quando o ex-presidente e o ex-governador apareceram publicamente pela primeira vez, ladeados por políticos do MDB, do PSD, do antigo DEM e de alguns outros partidos que não estão na aliança eleitoral de Lula.

A semente foi plantada lá em dezembro, mas, entre janeiro e abril deste ano, ficou sem chuva, sol e ar para vicejar plenamente, seja por conta do salto alto do PT (limado com a recuperação de Bolsonaro nas pesquisas), da intransigência de setores mais à esquerda da direção partidária, da ineficiência da comunicação da pré-campanha ou das escorregadas e gafes verbais de Lula.

Nesse sentido, o lançamento da pré-candidatura retoma o eixo da pré-campanha, sendo um um passo importante na construção petista, mas ele ainda está longe de chegar ao ponto desejado por quem ainda acredita que a grande chance de Lula depende de convencer a classe política e a sociedade de que ele é a mesmo a única via, a única alternativa contra Bolsonaro, como disse um contundente Geraldo Alckmin no sábado.

TOXICIDADE DA TERCEIRA VIA
Assim, quanto mais o tempo passa, a chamada terceira via, até agora multifacetada em pré-candidaturas de baixo apelo eleitoral, vai perdendo o bonde das alianças nos estados e expondo as entranhas de seus bastidores, contaminados pelas disputas de egos e sob o lema “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O temor dos caciques que ainda estão no bloco é que, desse jeito, o único ativo do grupo, o de oferecer uma opção segura para quem, por razões diversas, busca um refúgio de neutralidade na polarização Lula-Bolsonaro, já não encontre mais apelo entre a classe política e o eleitorado.

O lançamento oficial da pré-candidatura Lula, repleta de acenos ao centro, muito contribuiu nesse sentido. Segundo explica um experiente cacique do bloco da terceira via, nesta altura do campeonato, os pré-candidatos ao Congresso, por exemplo, já estão sendo cobrados em seus redutos: o eleitor quer saber “de que lado eles estão”. Portanto, daqui pra frente é ficar atento ao Radar das Eleições e ao Agregador de Pesquisas, ambos do UOL, para saber para onde vai a terceira via, porque o tempo urge.

TRAIÇÃO COM TRAIÇÃO SE PAGA?
Valdemar Costa Neto, o chefão do PL, pouco fez para evitar que os líderes de seu partido em São Paulo apoiassem Rodrigo Garcia (PSDB) na eleição para o governo do estado, em vez de estarem com Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), seu candidato. Pois bem, agora, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) resolveu se colocar na eleição para o Senado no Distrito Federal, que tinha Flávia Arruda (PL) como candidata única do bloco bolsonarista. A pergunta que paira no ar: Damares se colocou a pedido de Bolsonaro para atrapalhar Flávia? Se o presidente não autorizou, por que não pede para ela limpar a área e disputar a Câmara? Fica a dúvida.

SEGURANÇA PÚBLICA NA AGENDA ELEITORAL
A série de sabatinas UOL/Folha com os pré-candidatos a governador de São Paulo mostrou que o tema da segurança está novamente em alta. Após o arrefecimento da pandemia, os paulistas voltaram às ruas “carregando o banco no bolso”, conforme definição ouvida por este colunista de um membro do governo do estado. Os tópicos do debate não se restringem, porém, à onda de roubos nas áreas centrais da capital paulista: câmeras nas fardas dos policiais militares e politização das tropas também estão em alta.

Candidato de Jair Bolsonaro ao Bandeirantes, Tarcísio Gomes de Freitas largou mal ao apontar, ainda em abril, um suposto pacto das forças de segurança do estado com a facção criminosa PCC. Questionado sobre o tema na sabatina, ele disse que o acordo estaria registrado na literatura, mas acabou desmentido pelos pesquisadores Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias, autores do livro Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil, apontado como fonte pelo ex-ministro. Para apoiadores de Tarcísio, que é carioca, e auxiliares dele na pré-campanha, o episódio serve de lição: o pré-candidato precisa se preparar mais, estudar a fundo as questões do estado e estar atento para não escorregar nas muitas cascas de banana da maratona.

Fonte: Uol

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